Um corpo preto incomoda muita gente

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Desde muito tempo me faço essa pergunta: como um corpo preto pode existir em paz? Depois que me tornei mãe, óbvio que essa reflexão tomou uma proporção muito maior.

Se a gente ousa frequentar espaços diferentes daqueles que foram pensados para nós, a gente incomoda APENAS por estar nesses lugares! E quanto mais temos consciência disso, mais evidente fica.

A maternidade me fez perceber o quanto pensar sobre essa minha existência em espaços não “pensados” pra mim se faz importante e, até, em certa medida, revolucionário.

Os ambientes pensados para que as pessoas pretas estejam, pra começar, não foram pensados por elas mesmas - ou seja, quando eu saio desses lugares eu me torno (em certa medida, sendo generosa) uma “transgressora”. E como é ser diariamente uma pessoa que transgride? Ser aquela que vai contra a convenção e passa a EXISTIR onde “não deve”.

Ainda que, inúmeras vezes, seja doloroso permanecer em lugares não projetados para nós, é fundamental que saibamos o quanto a nossa existência SAUDÁVEL nesses lugares é um ato de revolução!

Mesmo que a gente incomode, como seria bom que a gente permanecesse existindo de forma amorosa e saudável em qualquer lugar! Mesmo que a gente incomode, que a gente tenha consciência de que não é ou pela nossa roupa rosa, azul, verde; ou pela nossa maquiagem; ou pela nossa cria chorando; ou pelo nosso cabelo; ou pela nossa fala… o que realmente incomoda é a nossa presença! É existir de forma humanizada, isso incomoda muita gente!

Por isso que eu desejo que a nossa existência aquilombada, humanizada e amorosa possa crescer cada vez mais! Axé 🌿