Preta, e a tua individualidade?

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Estou desde o dia 17 de março com minha filha em casa. No início meu marido estava conosco e nos revezamos no trabalho e na atenção a ela, mas ele retornou ao trabalho físico e nos vimos em uma realidade que nunca havia acontecido: Eu, ela e o trabalho. Olhando assim parece um triângulo, mas o negócio aumentou, pois o meu dia não se divide em ser mãe e ser trabalhadora. Sou também a mulher que hidrata o cabelo, faz as unhas, que gosta de assistir séries, ler um livro, conversar com as amigas, namorar, dormir, fazer terapia… E todas essas experiências eu encaixava no “horário da escolinha”. Cerca de 1hora e meia que eu tinha livre entre o trabalho e a hora de buscar minha filha na escola.

Quando me convenci de que abrir mão das minhas atividades (pelo menos não todas), não seria uma opção, entrei na luta de convencer o meu entorno de que essas atividades eram tão importantes pra mim, quanto comer, tomar banho. E o pior, me convencer de que ao frustrar minha filha, informando de que naquele momento a atenção é dedicada a mim mesma, era o maior gesto de sobrevivência dessa quarentena.

É difícil admitir que somos tão importantes quanto nossos filhos. Demorei muito tempo para conseguir recomeçar a desenvolver as coisas que gostava de fazer antes de ser mãe e perder isso por um decreto de Pandemia foi um soco na minha saúde mental.

Minha escrita aqui é também para que eu possa revisitar essas palavras e entender que me amar é um gesto de amor aos meus filhos. Que respeitar meu tempo, meus gostos, minha individualidade não é motivo de culpa, não é descaso. Se para você é suficiente um tempo olhando plantas no Pinterest ou se precisa de um tempo alinhando a sobrancelha faça com que seus filhos entendam que a mamãe também tem as coisas que gosta de fazer sozinha. Desconheço melhor forma de ensiná-los a serem múltiplos e completos no futuro.