Bonecas brancas
- grupomaespretas
- 8 de out. de 2021
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Sou de uma geração que se criou tendo somente bonecas brancas. Já era muito grande quando tive uma boneca de pele escura e cabelos lisos. Naquela idade que as crianças estão formando a identidade, a auto estima, eu estava penteando bonecas loiras, de olhos azuis, verdes.
Hoje sou mãe de duas meninas e o mundo mudou. Pouco, mas mudou.
Quando minha filha passou a receber as primeiras bonecas brancas pensei: Por quê?
Porque minha filha era cercada de tias, avós e outras pessoas que a amavam e queriam vê-la brincando com os brinquedos mais lindos que houvessem. Ainda é muito latente que o padrão de beleza seja o da branca, que nem mesmo haja questionamentos sobre a ausência de bonecas negras em uma loja. Ainda é muito recente a normalização de que não nos víssemos nos espaços, inclusive no lúdico.
Me vi com uma menina negra de 01 ano de idade e mais de 10 bonecas brancas pensando sobre o que fazer. O afeto contido no presente ofertado versus a imagem que tanto me fez odiar meus próprios traços. Decidi doar as bonecas, manter somente aquelas que fortaleciam a identidade negra.
Mas e a diversidade? Crianças não devem ser apresentadas para um mundo diverso?
Minha filha terá a vida inteira para entrar em lojas e descobrir que lá, diferente do seu quarto, as bonecas negras são a minoria, quando existem. A vida inteira para refletir sobre grandes marcas que tratam a diversidade com uma mísera cota de modelos em suas publicidades. A vida inteira para ter contato com um mundo que acredita que ser branco é universal.
Decidi que enquanto ela se fortalece na sua tenra infância, vou criar para ela um mundo onde ela seja o centro. Enquanto eu conseguir construir esse mundo, plantarei sementes para germinar tudo que o mundo tentará (ou não?) invisibilizar no futuro.