A beleza da minha filha

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Antes de começar a escrita gostaria de dizer que ninguém nesse mundo tem mais certeza do que eu de que minha filha é uma menina linda. Ela é muito bonita.

Vivemos em uma cidade onde existem poucas pessoas negras e decidimos trançar o cabelo para as festas de final de ano. Sair com a minha filha se tornou quase como sair com uma pessoa famosa. Tenho certeza que a auto estima dela foi elevada com tantos elogios, mas eu que sou uma mãe racialmente reflexiva, me questionei.

Tudo aquilo que sentimos necessidade de falar a alguém desconhecido é porque não naturalizamos. E a beleza da minha filha está nessa lista. As pessoas não veem como natural uma menina retinta, bem vestida, com cabelos bem tratados e precisam verbalizar o quanto aquilo as surpreende.

Não estou falando dos elogios dos amigos e dos parentes que são fundamentais para a construção da auto estima e identidade da minha filha. Falo de pessoas estranhas na rua que mais a assustam com suas abordagens e sua surpresa desmedida.

Isso também é o racismo operando. Crianças brancas lidas como bonitas, não precisam dar autógrafos na rua. Pois a sociedade espera que elas sejam detentoras de beleza, mas quando essa beleza está em uma menina negra, as palavras pulam da boca para concretizar o ilógico do sistema.

Meu papel enquanto mãe é sempre naturalizar a beleza da minha filha. Respondo elogios com: “Sabemos disso!” “Temos certeza disso.” “É linda.” Ela precisa saber que sua maior beleza é a sua felicidade, é poder ser do jeito que quiser, mesmo que o mundo não esteja pronto para normalizar que sua negritude é linda.