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Sobre as voltas que teu cabelo dá

  • grupomaespretas
  • 6 de set. de 2023
  • 2 min de leitura















Não, meu filho, nós não queremos.


Não queremos prender, amarrar, trançar e nem cortar. Raspar? Nem pensar. Eu sei que já nos falaram que:


- Vai crescer e atrapalhar a tua visão; e que se pegar piolho é um problema sem tamanho; e que curtinho é mais prático.

Sei também aquilo que não nos falam diretamente, mas que pensam quando te veem:


- Que parece bagunçado, meio desarrumado; ou que poderíamos fazer um tratamento para definir melhor; ou que grandão assim é mais bonito para menina (e cabelo tem gênero?).


Mas sabemos também algumas verdades importantes, meu filho. Entre elas que apagar nossos traços sempre foi uma estratégia de, na verdade, apagar a nossa existência. E adivinhe? Eles não conseguiram. Que isso que cresce em ti são mais que fios, são marcas da nossa diáspora forçada neste lado de cá. Mamãe também sabe que ao raspar sua cabecinha sob pressão do que é considerado belo, incorreremos na mutilação, na violência que o colonizador nos ensinou tão bem.


Te amamos assim, menino, com essa linda copa que cresce para cima, tão alto como se quisesse alcançar o céu, as estrelas, além do tronco de um Baobá. Gostamos de entrelaçar os dedos nestas voltinhas macias quando chega a hora em que você, meu filho, quer dormir. E como é gostoso o cafuné que a gente faz antes, depois e durante o velar do teu sono.


Gostamos de te ver balançar ao sabor do vento enquanto faz traquinagem e corre livre por aí. E por falar em liberdade, é isso que mamãe quer que tu saibas, meu filho: tu és livre. Nasceu para isso, para desfrutar essa liberdade – ela nos custou tão caro. És livre para gritar ao mundo que não existe padrão estético, racista e sexista que seja capaz de te acorrentar, te aprisionar.


Ah, meu filho... se todos os meninos negros soubessem desta liberdade que é nossa por direito. Como seria transformador ver mais cabelos por aí. Essas curvas tão distintas e que nos impulsionam a amar cada pedacinho da nossa gente. Eu te amo e te ensinarei a amar tudo aquilo que te faz único. Teu black é lindo, meu bebê. Não esqueça disso, mesmo que insistam em te dizer o contrário.

 
 

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