Preta, a história se repete com seus filhos?

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Certa vez em um debate sobre a educação infantil da minha filha, relatei sobre meus anseios de que ela vivenciasse as mesmas coisas que eu na escola. Não tenho lembranças positivas dessa fase. Lembro de apelidos, lembro da solidão no recreio, de não ser escolhida para brincadeiras, nem mais tarde para os beijinhos e assim foi. Precisei sair da escola para reconstruir minha auto estima. E assim eu vejo (via) a escola: como um espaço devastador de auto estima negra. Nunca me vi nos professores, nem nos colegas e quando me vi nos livros, me vi escrava, marginalizada.

Mas no debate fui questionada se não haveria a possibilidade da minha filha trilhar caminhos diversos e ter experiências diferentes. Filhos são pessoas diferentes de nós, que embora tenham semelhanças, têm a oportunidade de construir suas próprias narrativas sobre as mesmas situações. Concluí que cabe a nós (pais) sermos potencializadores dessa reescrita.

Infelizmente às vezes nossas melhores intenções não são suficientes para barrar nossas inseguranças e o caminho que encontrei para tratar das minhas questões, sem que elas transbordem para minha filha, foi o caminho terapêutico através do acompanhamento psicológico.

Em terapia tenho a oportunidade de revisitar minhas dores e ressignificá-las. Tenho a oportunidade de compreender que eu e minha filha não habitamos mais o mesmo corpo e não precisamos vivenciar os mesmos sentimentos.

Falando parece fácil, mas é um exercício difícil e contínuo de tentativa e erro. No instinto de proteger do que já me feriu, é fácil ter a certeza que a história irá se repetir. Mas a minha filha merece ter sua própria narrativa do mundo ou pode optar por ter a mesma minha, mas que isso seja (repito) opção. A minha mãe sempre diz que filhos, nós criamos para o mundo. Eu estou tentando.