Mãe Preta é imortal?

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Meu maior medo é que minha filha, assim como eu em relação ao meu pai, não me conheça. Eu falo de conhecer de verdade, saber o porquê não gosto de chocolate, o que penso politicamente, quais minhas expectativas sobre a criação dela, essas coisas... Conhecer neste nível exige um tempo de convivência que ultrapasse a infância dos nossos filhos e, não foi o que aconteceu com o meu pai.

Quando estamos realizando os exames gestacionais, parece que a vida passa como um filme. Doenças graves estão ali ao alcance de um frio “positivo” e a vida vira um fio de cabelo. Tudo isso quando se tem alguém que ainda irá depender tanto da mãe sendo gerado como semente.

Mães não são imortais. Entretanto, a maternidade nos tira o direito da morte, o direito de partir quando somos até mesmo o alimento ao filho. Quando muitas vezes o fantasma da paternidade ausente nos assombra, quando não queremos deixar o nosso a ser criado sob a educação que vivenciamos e queremos ser contramão.

Descobrir a vida que germina dentro de nós e juntos descobrirmos um diagnóstico, que nos remeta às escolhas erradas ou a uma alimentação irresponsável, ou a uma vida de sedentarismo preguiçoso é um processo doloroso, no entanto que não nos permite a fraqueza.

Mães pretas não são imortais, porém carregam a pesada necessidade de criar essa imortalidade.