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Dia de doces para os Erês

  • grupomaespretas
  • 27 de set. de 2023
  • 2 min de leitura















Sempre tive muita simpatia por São Cosme e São Damião. Figuras religiosas que na tradição de matriz africana estão relacionados aos Ibejis, os protetores de nossas crianças. Em setembro, especificamente no dia 27, lembramos deles, dos erês, da Ibejada, dos nossos pequenos.


Hoje, aos 33 anos, ainda lembro com clareza a primeira vez que eu fui em uma “mesa de Ibeji” com a minha mãe. O cheiro de doce, as mãos lambuzadas das entidades e assistentes, o guaraná que era distribuído de maneira farta, o quentinho da canjica estalando na boca, e o melhor: a distribuição de brinquedos no final do rito. Lembro bem. Naquela época, na cidade em que cresci a religiosidade africana era praticada de formava velada, escondidinho mesmo. Não se dizia para ninguém que se foi a uma “festa de santo”. Imagine só! O que os vizinhos iriam pensar?


Mas lembro também da primeira vez que levei meu filho em uma mesa de Ibeji. Ele ainda estava dentro de mim, no calor do meu útero. E naquele momento, sentada no chão, vendo outras crianças se lambuzarem com os doces, fiquei pensando em como seria bom poder criar o meu menino em um ambiente longe de racismo religioso e longe do medo de assumir ser quem se é.


O nosso sagrado, entre outras coisas, prega a importância da saúde e do bem-estar de cada criança deste mundão. Em um país onde por ano cerca de 6 mil crianças e adolescentes morrem de forma violenta, segundo a Unicef, se faz necessário olhar para a infância com carinho. Imagine a dor e imagine a cor.


No Brasil a história de um menino negro praticamente empurrado do 9º andar de um prédio não choca. Uma bala perdida que sempre acha um corpo preto com menos de 18 anos não gera comoção. No Brasil, o alto índice de trabalho doméstico escravizado para meninas negras não faz ninguém se mobilizar. O que mobiliza mesmo é a pretensa guerra do bem contra o mal na figura dos doces de Cosme, Damião, Doum e IIbejis.


Isso se chama racismo, em todas as complexidades. Mas quem se importa? Nós, mães pretas de axé nos importamos. Sempre nós. Nós por nós. Bejiróó! Oni Beijada!

 
 

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