Amizade com outras crianças negras

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Cresci em um colégio onde havia poucas crianças negras. Por isso, me lembro exatamente do dia em que estava trocando de roupa para a aula de Educação Física e a outra colega negra me ofereceu o creme para passar nas pernas. Eu estava com elas esbranquiçadas, um efeito que acontece pelo ressecamento da pele negra e que qualquer pessoa negra sabe diversas técnicas de disfarçar. A amizade com aquela colega negra foi fundamental para a construção da identidade que tenho hoje e é algo que almejo para minhas filhas: que elas se relacionem com outras crianças negras.

Muitos pais, assim como eu, já reconheceram o quanto ter esse espelho de identificação é fundamental para que possamos criar crianças que amem sua identidade, suas características e tenham uma saúde mental melhor do que a que tivemos. Mas nem todas famílias (amplio a responsabilidade para toda comunidade) estão dispostas a auxiliar as crianças nesse processo de cultivo de vínculos.

Na infância, cabe aos pais marcar a pracinha, lembrar do aniversário, levar a criança ao evento, comprar o presente. É comum ver pais que reclamam da falta de vínculo do filho com outras crianças, mas que nem mesmo sabem o nome dos pais dos possíveis amigos.

Amizade, assim como qualquer outro sentimento, é via de mão dupla, que precisa ser nutrida. Se você conhece outras crianças negras, possibilitem que elas se aproximem dos seus filhos, que construam vínculos, que estejam próximas. Na maioria das vezes todos acabam ganhando, os pais também se tornam amigos. Nos tornamos parceiros nessa jornada que é muito melhor quando dividida, compartilhada, seja por adultos ou crianças.