A régua do choro
- grupomaespretas
- 21 de set. de 2023
- 2 min de leitura

A partir de uma Gira de Leitura e seus acontecimentos, refletimos, enquanto seres coletivos, o chorar. Entre nós, há quem “chore demais” e quem “chore de menos”. Mas quem detém a régua do choro?
Quem disse que chorar de raiva durante uma discussão é fraqueza? E que não chorar num velório seja frieza? Te dou uma pista: a resposta está no mesmo sistema moderno perpetrado por aqueles que nos desumanizaram para nos escravizar e ditar, a partir de sua imagem e semelhança, o que é humano e o que não é.
Quem aqui escreve não é uma psicóloga, mas sim uma mãe-preta-em-coexistência. Logo, esta reflexão é tão minha quanto nossa, pois foi nosso coexistir que permitiu que ela fluísse. Pausei o trabalho individual para deixar fluir a escrita coletiva, pois há fluxos que não se permitem represar. Como o sangue que jorra da pequena boca cortada; como o som do tambor que finalmente liberta a entidade que precisa se manifestar.
Nisso, essa escrita se assemelha às más águas, que paradas geram angústias – mágoas –, mas que uma vez desaguadas trazem alívio e permite um fluir que perpassa, em rede, em roda e gira, afluentes-mentes-corações outros, permitindo o encerramento de um ciclo para dar início a outro.
Como forças da natureza que são, nossas más águas precisam fluir para limpar nossas mentes e corações, pois nada se represa para sempre. A vida é movimento, que possamos aprender a movimentar o que sentimos, por transbordar em verbo e água a mente e o coração.
Que possamos nos permitir fazer chuva, cachoeira, formar lagos e mares, evitando assim gerar tsunamis, correntezas, repuxos – arrasando, inundando, afogando tudo, sem chance de salvamento.
Quem deve deter a régua de nosso choro, afinal, somos nós mesmas e, no coexistir, saber acolher, mais do que secar o choro alheio (lembremos que, no coexistir, tal alheio também nos pertence). Quem chora sozinha, afinal, pode ser mais feliz, e quem chora em co-existência pode ser mais feliz e mais forte do que aquela que não o faz.
