A mãe braca e o pior problema do mundo
- grupomaespretas
- 13 de set. de 2023
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Minha filha estuda em uma escola pública. Nesta semana estamos com um problema de falta de funcionários na escola e as aulas foram mantidas somente no turno da tarde.
O grupo da turma no Whats está agitado, com muitos pais mobilizados em pressionar setores da secretaria de educação e da direção a repor os funcionários e uma mãe branca inicia as reclamações.
Ela começa com uma foto de um circuito de câmeras domiciliar onde a criança aparece dormindo. Ela lamenta ter que acordá-lo da soneca. Estamos enfrentando dias de muita chuva em Porto Alegre e a criança parece dormir tranquila em uma cama montessoriana cercada de muitas almofadas, um controle de ar condicionado aparece no chão.
Cerca de 40min depois a mãe retorna com uma sequência de mensagens relatando que não pode entrar na escola e que a criança entrou sozinha. Ao final ela ameaça retirar a criança da escola, informando que é defensora da educação pública, mas está no seu limite.
As mensagens dela me irritam profundamente, pq me pegam em um lugar muito sensível, o lugar de alguém que convive com muitas mães pretas que buscam vagas para seus filhos. Na minha cidade 15mil famílias procuram por vagas em escolas públicas.
Mulheres que sustentam famílias sozinhas e que para levar seus filhos nas escolas enfrentam a parada de ônibus, o frio e o descaso. Que estão vivendo na dependência de auxílios, sem conseguir proporcionar nem mesmo as almofadas da mãe branca que não para de digitar.
Busco me acalmar procurando nela um lugar que me identifique, na sua revolta, no seu choro, mas quanto mais ela reclama mais me vejo distante daquela mulher que faz da sua dor a pior dor do mundo.
A dor da branquitude que não suporta ser tolhida. A dor lacerante da branquitude que sempre teve todos os seus desejos e vontades possibilitados. Que está acostumada a receber amparo e empatia. E que no auge do seu privilégio, não recua, mas ameaça!
Alguém retoma a conversa sobre a busca dos profissionais que estão em falta, a conversa segue sobre estratégias e e-mails que precisam ser enviados e eu fico pensando agora no meu problema por ter ficado tão incomodada. Meu problema é ser uma mãe preta.